25.1.08

A verdadeira eficácia da Jarra Azul

Bussola virtual
Cresce a preocupação com a qualidade das informações sobre saúde veiculadas na internet

Mônica Tarantino

O poder da internet de popularizar a informação é inegável. Principalmente nas áreas ligadas à saúde, um dos assuntos mais acessados nos sites. O interesse é grande. Só para se ter uma idéia, estimativa recente feita por ISTOÉ Online revelou que dois em cada cinco internautas procuram o serviço em busca de informações sobre o tema. Os efeitos desse fenômeno começam a ser estudados. No aspecto positivo, a rede criou espaços inéditos para a troca de informações, como as comunidades que discutem doenças crônicas, males raros e indicações de tratamento. O médico Nelson Akamine, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, avalia que a maioria dos pacientes que chega para uma consulta no hospital já fez uma pesquisa na rede. Essa busca, no entanto, dá acesso a um conteúdo muito amplo e que não tem garantia de qualidade. Numa mesma pesquisa, é possível obter desde tratamentos mais confiáveis e descobertas recentes até informações, tratamentos e produtos enganosos. "Se eu quiser escrever o maior absurdo na rede, eu consigo. Há muito lixo", diz Akamine. É verdade. Até mesmo as caixas de e-mail estão sendo invadidas por propagandas de aparelhos bizarros com a finalidade de aumentar o pênis. Um engodo. Essa situação se complica na medida em que aumenta o conteúdo sobre saúde. As áreas de maior volume de informações, segundo Akamine, são as doenças cardiovasculares, câncer e alterações que afetam grande número de pessoas, como depressão.

Helcio Nagamine
Nakano documenta artigos com publicidade enganosa
Enquanto a internet cresce, os governos e a sociedade afiam mecanismos para conter abusos. Em São Paulo, o diretor técnico de serviços de saúde da Vigilância Sanitária do Estado, Paulo Nakano, já incluiu na sua rotina de trabalho as buscas na rede para rastrear sites com propaganda enganosa de produtos e medicamentos. O trabalho é feito em parceria com a Delegacia de Meios Eletrônicos, que investiga crimes pela internet. Há duas semanas, Nakano realizou uma inspeção no escritório de São Paulo da empresa Costa Sul Magnética, que fabrica o produto Jarra Azul, um recipiente com ímãs que, segundo a companhia, tornaria a água mais fácil de ser absorvida pelo organismo. A empresa foi autuada por veicular propaganda enganosa. Em folhetos e online, a publicidade afirma que o produto tem "garantia e eficácia comprovada auxiliando na redução de diversas doenças (...) ao todo mais de 146". Durante a inspeção, acompanhada pela reportagem de ISTOÉ, Nakano encontrou também calcinhas e sutiãs com supostos poderes preventivos. Os produtos estão interditados porque não podem ser vendidos oferecendo ação terapêutica ou curativa. Além disso, a Vigilância deu dez dias à empresa para tirar a propaganda do ar, o que não havia acontecido até a tarde da quarta-feira 29 (os folhetos, porém, tinham sido tirados das embalagens). O gerente do escritório paulista, Cláudio Ruiz, atribuiu a culpa pela propaganda aos seus distribuidores. "Eles apelaram falando essas besteiras. E a situação fugiu ao meu controle", disse.

No âmbito internacional, há várias iniciativas para avaliar o uso da internet e desenvolver meios de selecionar a informação. Uma pesquisa divulgada no site da Fundação Saúde na Internet (HON na sigla em inglês), entidade com sede em Genebra, revelou que a exatidão dos dados é o item que mais preocupa os médicos e os pacientes que procuram a rede. Além disso, a pesquisa da HON mostrou que 55% dos consultados acham que os sites de saúde precisam ter um selo.

Com a preocupação de criar normas para orientar a formatação dos endereços, a HON criou um código de conduta, o HONcode. Quem segue as normas pode inserir o selo de acreditação HONcode no site. Para o usuário, é uma garantia de que a informação tem aval científico. A médica e analista de sistemas Beatriz Vicent, da Fundação Oswaldo Cruz, recomenda aos usuários que consultem os sites de instituições de pesquisa e hospitais de renome. Ela é autora do livro Internet: guia para profissionais de saúde (Ed. Atheneu). Além disso, a Organização Mundial da Saúde elaborou um guia para o usuário. O texto foi adaptado para a realidade brasileira pela atual diretora da Vigilância Sanitária de São Paulo, Marisa Carvalho. "Nós fiscalizamos, mas o consumidor precisa ter condições de selecionar a informação", diz.