14.11.08

Água com sabor pode causar doenças

 
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Água de beber não é mais a mesma
 
Getty Images
Opções de sabor integram um dos novos tipos de água existentes no mercado
Foi-se o tempo em que a água que a gente bebia era "insípida, inodora e incolor", como aprendemos na escola. Hoje, para despertar a vontade de consumidores sedentos por novidades, a indústria tem se desdobrado para transformar até esse líquido vital (e sem graça para muitas pessoas) em uma bebida mais atraente.

Depois da versão mineral e gaseificada em garrafas, a bebida ganhou ainda mais diferenciais. As primeiras novidades a despontar nas prateleiras foram as águas saborizadas, como a Aquarius Fresh e a Neutra. Tudo começou com um toque de limão, mas agora já é possível encontrar água mineral com gosto de hortelã, laranja, morango, maçã e até pitanga.

A Coca-Cola, fabricante da Aquarius Fresh, com suco de limão, alega, por meio de sua assessoria, que a intenção sempre foi oferecer uma opção para as pessoas hidratarem o organismo, com mais prazer. A empresa teria lançado o produto com base nos resultados de uma pesquisa que constatou que, quando o líquido tem sabor, a pessoa fica mais predisposta a hidratar-se.

A concorrência entre as indústrias de alimentos e os avanços tecnológicos estimularam mais duas ousadias nessa área. A primeira foi o lançamento de uma água com fibras (sim, aquelas substâncias essenciais ao bom funcionamento do intestino) - a Acqua Fibra, da Genuína Lindoya. A idéia foi inspirada em produto desenvolvido primeiramente na China.

Já a mais recente novidade no mercado é uma água com baixo teor de sódio, a Bonafont, da Danone. Segundo Eduardo Gagliardi, diretor de Marketing de Águas da empresa, o produto tem 0,34 mg/l de sódio contra 35 mg/l de outras marcas. O objetivo do produto, segundo ele, é, além de hidratar, diminuir o nível de sódio do organismo. "Segundo pesquisa realizada pela Danone, o brasileiro está consumindo sódio acima das taxas recomendadas, o que causa danos à saúde", alerta.

E o que os especialistas acham das novidades
Segundo especialistas, ninguém deve ir com muita sede às garrafinhas. O nutrólogo José Ernesto do Santos, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, por exemplo, é categórico ao afirmar que "a melhor escolha é sempre água". Ou seja, mais do que prestar atenção na adição de compostos, o que precisamos é beber mais água - e, para isso, a convencional resolve bem.

A professora do curso de nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Ana Feoli, concorda e alerta:águas com sabor não podem ser consideradas águas, porque não tem só a bebida em sua composição."Elas têm sabor, aromatizante e, dependendo da versão, adoçantes para substituir o açúcar", enumera.

Ana Feoli compara as águas saborizadas com adoçantes com refrigerantes diet. "Elas têm menos calorias do que os refrigerantes convencionais. Porém, como os adoçantes têm sódio, essas águas saborizadas contém mais sódio", alerta.

O perigo, segundo a professora Ana Feoli, é as pessoas substituírem toda a quantidade de água pura que deveriam ingerir por essas águas sabiorizadas. "Isso, certamente, vai aumentar o nível de sódio do organismo e, quando ocorre uma ingestão exagerada dessa substância, as conseqüências podem ocorrer a curto prazo, principalmente para os hipertensos", explica a professora. O excesso de sódio pode aumentar a pressão arterial e causar retenção de líquidos, problemas renais e até cardiovasculares.

Então, uma água com baixo teor de sódio seria uma boa opção? Não é bem assim. Para a professora Feoli, o problema maior não é o sódio que consumimos com a água e sim o proveniente de outros alimentos. Ela alerta que estudos recentes indicam que o brasileiro consome o dobro da quantidade de sal (que vem do sódio) recomendada para um adulto diariamente: de uma média de 6 gramas por dia, consome-se 12 gramas. "Grande parte vem de outros alimentos, especialmente os industrializados", comenta.

Já em relação a água com fibras, o endocrinologista João César Castro Soares, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)disee não conhecer o produto, mas que se uma água tem fibras, elas só podem ser hidrossolúveis (aquelas que dissolvem na água). "A questão é que, para o intestino funcionar corretamente, o organismo precisa de dois tipos de fibra: a hidrossolúvel e a não-hidrossolúvel. Não adianta só beber essa água e não comer alimentos com fibras não-hidrossolúveis, como vegetais e cereais", acredita.

Classificação
A legislação brasileira não permite a denominação de "água saborificada ou saborizada" para produtos como o Aquarius Fresh e o Neutra. Por esse motivo, eles podem aparecer com descrições como "água purificada adicionada de sais", como foi o caso da Pure Life, a água saborizada da Nestlé que, devido a processos judiciais contra a desmineralização da água, deixou de ser comercializada no Brasil desde 2005.

Algumas indústrias, inclusive, não vendem mais os produtos como água, e sim como refrigerante. É o caso da H2OH!, da Pepsi. 


Serviços
Ana Feoli - professora do curso de nutrição da PUC-RS
www.pucrs.br

José Ernesto dos Santos - nutrólogo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
www.fmrp.usp.br
 
Redação Terra

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